Um insight sobre a crise e o artesanal

Parece que não há respostas claras para aqueles que estão olhando em como se adequar a mudança de comportamento de consumo e, principalmente, superar a crise no varejo. Mas as soluções estão escondidas nas tentativas vindas do artesão e pequeno empreendedor.

Para que eu possa começar o meu insight, aqui vai uma informação da WGSN:

Há uma tendência de comportamento, um sentimento comum, como um inconsciente coletivo, que pode ser resumido no desejo de voltar à uma oficina da época da Renascença.

Este comportamento tem criado a valorização especial do produto artesanal,  tanto para produtores quanto para consumidores. As motivações principais são vender/consumir algo que tenha história, sentimento e, principalmente, qualidade.

Olhando a partir deste ponto, vamos exercitar alguns pensamentos sobre CRISE?

Vivemos uma longa crise e mudança de parâmetros do consumo:  é indiscutível. Mas, o que é realmente uma “crise”? Que significados ocultos tem essa palavra?

Em grego, krisis significa transformação ou a fase de um processo. Krisis vem do verbo grego que significa distinguir, também significa a expectativa de fatos inevitáveis ​​ou o conceito de um evento catastrófico.

A antiga língua chinesa é ainda mais explícita. Quando Lê-se a palavra crise escrita em chinês, seu significado é composto de dois ideogramas (wei-ji). Um símbolo representa perigo e o outro oportunidade. John F. Kennedy falou sobre isso em seu discurso em Indianápolis em 1959 e mudou o olhar e o significado profundo sobre a crise que abatia os USA naquela época.

Esta crise interminável pode parecer, à primeira vista, uma catástrofe se pensarmos que o capitalismo não está funcionando como deveria. Empregos existem, mas o crescimento se arrasta, a desigualdade é alta e o meio ambiente está sofrendo. Seria de se esperar que os governos fizessem reformas para enfrentar esses problemas, mas a política anda travada ou é instável. Quem, então, vai se encarregar do resgate?

Será que somos capazes de discernir a realidade, compreender as pistas do novo que aparece e ignorar o ruído de fundo? Será que podemos ver tudo isso como uma oportunidade de mudança? O que podemos aprender com os significados da palavra “crise”?

Não sermos a espera passiva para o irremediável já é um bom começo.

Tentar ser capaz de ler o mercado, o comportamento do consumidor ou o que fazem não só os concorrentes, mas também novos operadores do mercado, para entender a dinâmica. Além disso, a internet é uma vitrine extraordinária do mundo que atualiza em tempo real produtos e quaisquer estratégias de marketing e de negócios.

É natural que a crise seja um momento de grande instabilidade, mas isso gera sinais mistos. É neste processo que temos que praticar o discernimento. É lá que temos que ler as pistas do mercado.

No fundo de cada insight, ou melhor dizendo, no fundo daquela vontadezinha que temos no coração de fazer algo, há sempre a reunião de fatos e informações que – à primeira vista – parecem ideias confusas, mas então, em algum momento viramos a chave na cabeça, conectamos os pensamentos soltos e BOOM! Do nada passamos a gerar novas ideias e consequentemente, novas saídas.

Isso foi o que Steve Jobs, fundador da Apple, chamou de “ligar os pontos”. Mas, para isso, temos que aceitar viver com elementos ambíguos, as vezes não queremos ver o que está logo ali virando a esquina e prever o mercado.

Quem vai trabalhar em ambientes caóticos como o varejo não pode estar paralisado esperando que as coisas tornem-se claras, que alguém defina as regras ou mostre a direção. Para entrarmos e investirmos em um ambiente turbulento como o varejo, precisamos de uma certa convicção.

Devemos, portanto, avaliar as nossas capacidades, nossas forças e focar no contexto atual. E é aí que o artesanato, a produção interna, de pequeno porte ou pequeno empreendedor pode ser uma brecha de saída e uma grande oportunidade dentro da crise.

A cultura artesanal é muito forte e está acima da expectativa do que a maioria pensa, mas o artesão tem que saber como inovar.

Em primeiro lugar, deve-se notar um paradoxo entre demanda e entrega. A dimensão do desemprego está atingindo cada dia que passa proporções mais dramáticas, e um dos problemas na geração de negócio é a falta de mão de obra qualificada em competências técnicas e artesanais, principalmente entre os mais jovens, e apesar de cursos técnicos como os do SENAC e SENAI para a renovação de competências profissionais, a procura ainda é abaixo da oferta de vagas, o que acaba fechando cursos, escolas ou freando incentivos educacionais.

Fonte da imagem: Visual Hunt

Acaba ficando na mão dos mais antigos a técnica e a sabedoria do artesanal, o que cria uma fragilidade na demanda, na qualidade e ainda põe em risco a extinção de muitos negócios que estão voltando a ser procurados.

O artesanato hoje, pensado de maneira bem feita, pode ser considerado uma mistura única do passado com o futuro, a tradição com a inovação.  A capacidade de personalizar, criar produtos úteis e originais – aproximando o mundo da arte ao mundo da produção e criar um produto inimitável e de extrema qualidade, exclusividade, sentimento e intimidade artística.

Quem faz isso com maestria e sucesso é a marca brasileira Catarina Mina, que celebra a sua autenticidade no design, abre os custos de produção e valoriza o fornecedor artesanal.

Fonte da imagem: Catarina Mina

Um exemplo ainda maior de que a cultura do artesanal  pode ser valioso é o mercado italiano do design handmade, que criou o senso comum da qualidade MADE IN ITALY e a obsessão com o bem feito, que vai além da questão econômica ou técnica.

É uma mistura de habilidade e paixão, o cérebro e o coração – estratégia de excelência – como costumava dizer o publicitário americano Jay Chiat: “Good enough is not enough” (“muito bom não é suficiente”), e que transformou o produto italiano feito de forma artesanal em um artigo de luxo, alta qualidade, valor agregado, e o principal: salvou a economia interna do país criando uma etiqueta que tem como significado qualidade, bom gosto e o feito à mão.

O produto italiano feito de forma artesanal virou um artigo de luxo, alta qualidade, valor agregado, e o principal: salvou a economia interna do país

Com base nestes pontos fortes como antídotos para curar as feridas da crise, há uma série de fatores para serem colocados nessa panela que mistura a produção artesanal com o mercado do futuro (que já é agora!).


Pontuei quatro pontos principais do porquê o Artesanal pode ser uma boa saída para o novo comportamento de consumo:

1.Um dos tesouros mais importantes do artesão é o contato humano direto. Isso pode ser ampliado de maneira criativa com a geração digital, olhar caminhos além do que já se conhece para inovar de acordo com o modus operandi do artesão. Isso não quer dizer que o caminho é como as grandes empresas fazem, onde inovação é geralmente equivalente a automação e a substituição de humanos por máquinas, um exemplo disso é a transformação de call centers em atendimentos com voz eletrônica. Pelo contrário. Para o artesão com empresa de pequeno porte, os meios de inovação é a valorização do trabalhador, que se sentindo bem no seu ambiente de trabalho acaba produzindo mais, com maior precisão e qualidade. O meio digital pode ser feito com o poder das redes (digitais e analógicas): conexões sociais, trabalhar em conjunto, entrar em novos mercados, grupos de compra, etc.

2. Enfrentar sistematicamente a questão das habilidades necessárias para lidar com um mercado em crescimento como “diferente” do que sabemos. Inovação não significa necessariamente produzir coisas novas, mas muitas vezes enfrentamos novos contextos (ou novos pedidos de clientes) nunca visto antes. Em particular, uma das questões prioritárias é aumentar a capacidade de não só fazer belos objetos, úteis e originais, mas acima de tudo agregar marketing, contar histórias, fazer sentido –  o valor simbólico é um dos desafios mais complexos e fascinantes – onde os clientes pagam um valor maior pelo sentido da coisa.

3. Desenvolver uma visão sobre o século XXI – um componente essencial de qualquer negócio que quer ser realmente inteligente. Tais como freelancers e trabalhadores home office, com wi-fi, onde as ferramentas de trabalho integram com o resto do mobiliário doméstico, muitas vezes trabalhar em casa, no seu horário, é muito mais produtivo e de acordo com a maneira de trabalhar do futuro, dando tempo ao tempo e produzindo de maneira otimizada. No entanto o trabalho em casa se torna muito individual e de pouco contato. Por outro lado, para estes mesmos trabalhadores existem os co-workings, coletivos ou estúdios criativos. Estes tem sido lugares importantes para os pequenos empreendedores, não só para fins produtivos, mas também educativo, onde encontros com outras pessoas agregam valor de ideia ao projeto ou produto.

4. E, finalmente, estar sempre por dentro das inovações de fabricações: lidar com sensores, impressões 3D, personalização em larga escala, tudo isso são áreas importantes para se conhecer, mas que necessitam de extrema cautela para não perder a essência do artesanal. É importante estar por dentro das feiras de tecnologia e tendências, até mesmo para fazer contatos, mas a prioridade imediata é vender mais e melhor, manter e fortalecer as relações com os seus clientes, gastar menos e isso só pode ser construído sobre a base de quem é experiente e que está há anos no mercado.

Por fim, após toda essa reflexão, digo e repito: A cultura artesanal é muito mais forte e atual do que você pensa!